domingo, 6 de março de 2011

Memórias de um Suicida

Médium: Yvonne A. Pereira

Espírito: Camilo Castelo Branco

Páginas: 688

Sinopse: 
Neste livro, o autor Espiritual – Camilo Castelo Branco, sob a orientação do Espírito Léon Denis – descreve a sua dolorosa experiência no plano espiritual após a desencarnação resultante de suicídio, transmitindo valiosos ensinamentos, especialmente aos que se deixam avassalar pela idéia de pôr termo à existência física. Evidencia a grandeza da misericórdia divina em favor de Espíritos de suicidas arrependidos, proporcionando-lhes a oportunidade do conhecimento do Universo e da Vida na sua integral dimensão, por meio de cursos proporcionados pela Espiritualidade Superior em que são estudados a Gênese planetária, a evolução do Ser, a imortalidade da alma, a Moral Cristã, dentre outros temas relevantes para a compreensão de que “– Nenhuma tentativa para o reerguimento moral será eficiente se continuarmos presos à ignorância de nós mesmos.” Recomenda-se não interromper a leitura após o impacto inicial provocado pela descrição das dramáticas cenas expostas, pois o livro também demonstra que há sempre um caminho de retorno, de reconstrução, para os faltosos arrependidos. Há sempre a Esperança, porquanto a reabilitação é sempre possível.

Capítulo II
Os réprobos

Em geral aqueles que se arrojam ao suicídio, para sempre esperam livrar-se de dissabores julgados insuportáveis, de sofrimentos e problemas considerados insolúveis pela tibiez da vontade deseducada, que se acovarda em presença, muitas vezes, da vergonha do descrédito ou da desonra, dos remorsos deprimentes postos a enxovalharem a consciência, conseqüências de ações praticadas à revelia das leis do Bem e da Justiça.....

....As primeiras horas que se seguiram ao gesto brutal de que usei, para comigo mesmo, passaram-se sem que verdadeiramente eu pudesse dar acordo de mim. Meu Espírito, rudemente violentado, como que desmaiara, sofrendo ignóbil colapso......

....Pouco a pouco, senti ressuscitando das sombras confusas em que mergulhei meu pobre Espírito, após a queda do corpo físico, o atributo máximo que a Paternidade Divina impôs sobre aqueles que, no decorrer dos milênios, deverão refletir Sua imagem e semelhança; - a Consciência! a Memória! o divino dom de pensar!

Senti-me enregelar de frio. Tiritava! .....

....Odores fétidos e nauseabundos, todavia, revoltavam-me brutalmente o olfato. Dor aguda, violenta, enlouquecedora, arremeteu-se instantaneamente sobre meu corpo por inteiro, localizando-se particularmente no cérebro e iniciando-se no aparelho auditivo.
Presa de convulsões indescritíveis de dor física, levei a destra ao ouvido direito: - o sangue corria do orifício causado pelo projétil da arma de fogo de que me servira para o suicídio e manchou-me as mãos, as vestes, o corpo... Eu nada enxergava, porém.
Convém recordar que meu suicídio derivou-se da revolta por me encontrar cego, expiação que considerei superior às minhas forças. Injusta punição da natureza aos meus olhos necessitados de ver, para que me fosse dado obter, pelo trabalho, a subsistência honrada e ativa.

Sentia-me, pois, ainda cego; e, para cúmulo do meu estado de desorientação, encontrava-me ferido. Tão somente ferido e não morto! Porque a vida continuava em mim como antes do suicídio!.....

....O mais surpreendente silêncio continuou enervando-me. Indaguei mal-humorado por enfermeiros, por médicos que possivelmente me atenderiam, dado que me não encontrasse em minha residência e sim retido em algum hospital; por serviçais, criados, fosse quem fosse, que me obsequiar pudessem, abrindo as janelas do aposento onde me supunha recolhido, a fim de que correntes de ar purificado me reconfortassem os pulmões; que me favorecessem coberturas quentes, acendessem a lareira para amenizar a gelidez que me entorpecia os membros, providenciando bálsamo às dores que me supliciavam o organismo, e alimento, e água, porque eu tinha fome e tinha sede!....

....Após esforços desesperados, levantei-me. Meu corpo enregelado, os músculos retesados por entorpecimento geral, dificultavam-me sobremodo o intento. Todavia, levantei-me. Ao fazê-lo, porém, cheiro penetrante de sangue e vísceras putrefatos reacendeu em torno, repugnando-me até às náuseas. Partia do local exato em que eu estivera dormindo. Não compreendia como poderia cheirar tão desagradavelmente o leito onde me achava. Para mim seria o mesmo que me acolhia todas as noites! E, no entanto, que de odores fétidos me surpreendiam agora! Atribui o fato ao ferimento que fizera na intenção de matar-me, a
fim de explicar-me de algum modo a estranha aflição, ao sangue que corria, manchando-me as vestes. Realmente! Eu me encontrava empastado de peçonha, como um lodo asqueroso que dessorasse de meu próprio corpo, empapando incomodativamente a indumentária que usava, pois, com surpresa, surpreendi-me trajando cerimoniosamente, não obstante retido num leito de dor. Mas, ao mesmo tempo que assim me apresentava satisfações, confundia-me na interrogação de como poderia assim ser, visto não ser
cabível que um simples ferimento, mesmo a quantidade de sangue espargido, pudesse tresandar a tanta podridão, sem que meus amigos e enfermeiros deixassem de providenciar a devida higienização.
 
Inquieto, tateei na escuridão com o intuito de encontrar a porta de saída que me era habitual, já que todos me abandonavam em hora tão critica. Tropecei, porém, em dado momento, num montão de destroços e, instintivamente, curvei-me para o chão, a examinar o que assim me interceptava os passos. Então, repentinamente, a loucura irremediável apoderou-se de minhas faculdades e entrei a gritar e uivar qual demônio enfurecido, respondendo na mesma dramática tonalidade à macabra sinfonia cujo coro de vozes não cessava de perseguir minha audição, em intermitências de angustiante expectativa.
 
O montão de escombros era nada menos do que a terra de uma cova recentemente fechada!
 
Não sei como, estando cego, pude entrever, em meio as sombras que me rodeavam, o que existia em torno!

Eu me encontrava num cemitério!.....

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Nota: Ninguém tem o direito de tentar impedir a ordem natural da vida. 
Aconselho a leitura do livro juntamente com a obra Lições de Um Suicida de Abel Sidney para possíveis esclarecimentos.

2 comentários:

  1. Olá... encontrei o seu blog quando procurava pelas mensagens do livro Basta uma palavra do Padre Antônio José. Resolvi então comentar nessa postagem mais recente na esperança de que você veja... Eu parei na mensagem do vigésimo segundo dia e gostaria de saber se você teria como disponibilizar dele em diante. Mandei um e-mail para o padre, como vc sugeriu na postagem mas não tenho certeza da resposta então resolvi pedir a ajuda rs. Meu e-mail é jamile_grimm@yahoo.com.br Obrigada desde já e desculpe qualquer coisa.

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  2. Parabéns pelo blog.. adorei ;)


    http://tlugato.blogspot.com/

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